Saraiva Leão

por Wesley Alcoforado
publicado em 09/08/2025

A história da família Saraiva Leão é um vasto e fascinante panorama que se desdobra nos sertões do Nordeste brasileiro, especialmente no Ceará e na Paraíba, repleta de figuras que moldaram seu legado através de tradições, fé e uma notável resiliência.

As origens e o patriarca do Banabuiú

Tudo começa na ribeira do Banabuiú, no Ceará, onde, no segundo quartel do século XVIII, o Capitão Alexandre de Brito Pereira, um comerciante de cavalos vindo de Pernambuco, estabeleceu-se na Barra do Sitiá. Ele e sua esposa Albina Ferreira do Souveral são os pais de Antônio Saraiva Leão (Papai Saraiva), que se tornou o tronco da família Saraiva Leão no Ceará. Nascido em 1748 na fazenda Tapera, Papai Saraiva casou-se com Ana Batista da Costa Coelho por volta de 1779.

Ele construiu um vasto império sertanejo, com propriedades que se estendiam por Russas, Aracati, Morada Nova, Quixadá, Quixeramobim e até mesmo na Paraíba, sendo considerado um dos fazendeiros mais ricos de seu tempo. Sua figura era lendária não apenas pela riqueza, mas pela generosidade notável. Faleceu em 7 de dezembro de 1831, provavelmente em sua fazenda Saco, sobre o rio Banabuiú.

A expansão familiar e as propriedades

Os filhos de Papai Saraiva, incluindo Major João Batista da Costa Coelho, Capitão Lucas Luís Saraiva Leão e José Olavo, administraram o vasto império do pai, e após sua morte, herdaram as propriedades que já dirigiam.

  • Fazenda Santa Tereza: Fundada na Paraíba pelo Major João Batista da Costa Coelho, em 1814. Originalmente chamada Cachoeira, foi renomeada Santa Tereza em homenagem à sua esposa, D. Tereza Antônia de Maria Seja Castelo Branco, pelo Padre Ibiapina. Esta fazenda era um verdadeiro feudo da família, com um nível de conforto e acabamento sem igual na região, possuindo capelão para missas e professores vindos de Recife para a educação dos filhos.
  • Fazenda São João / Jericó / Marajó: Localizada em Quixeramobim, foi administrada pelo Capitão Lucas Luís Saraiva Leão e, mais tarde, dividida em Fazenda Jericó, destinada a Antônio Galdino, e Fazenda Marajó, para o Major João Batista da Costa Coelho. O ramo Saraiva Leão da Fazenda Jericó foi particularmente identificado com as características de religiosidade e casamento entre parentes.
  • Serra D'Água: Também em Quixeramobim, esta fazenda coube ao filho José Olavo. Seus descendentes ficaram conhecidos como "os Olavos".

Entrelaçamentos familiares

  • Andrade: Plácido Francisco de Assis Andrade, o primeiro professor de latim em Quixeramobim, era genro de Papai Saraiva (Tenente-Coronel Antônio Saraiva Leão). Dentre seus descendentes, destacam-se figuras como o Dr. Manuel Antônio de Andrade Furtado, que casou-se duas vezes com primas Saraiva Leão e Bezerra, e o Dr. Luís Gonzaga Furtado de Andrade, reconhecido por sua dedicação ao clã Saraiva Leão.
  • Castelo Branco: Esta família de Baturité também possui fortes laços com os Saraiva Leão. D. Tereza Antônia de Maria Seja Castelo Branco era esposa do Major João Batista da Costa Coelho. O Dr. Antônio Benício Saraiva Leão Castelo Branco (Pai Benício), filho desse casal, foi um grande genealogista da família e casou-se com Maria Alexandrina Bezerra Castelo Branco.
  • Bezerra de Meneses: Uma das famílias mais tradicionais do Ceará e se uniram em diversas ocasiões aos Saraiva Leão. Maria Alexandrina Bezerra Castelo Branco, esposa do Dr. Antônio Benício, era filha do Major José Bezerra de Meneses e de sua prima Ana Bezerra de Meneses. O Coronel Antônio Bezerra de Sousa Meneses (o Revolucionário), figura importante na Confederação do Equador, era casado com Ana Maria da Costa.
  • Maia: A antiga Fazenda Santa Tereza, que foi um importante feudo dos Saraiva Leão, hoje pertence aos Maias, que também se entrelaçam com a família.
  • Brito Lira: Luis de Brito Lira era genro de Papai Saraiva, casado com Júlia Maria Santana da Encarnação. Essa linhagem leva a antepassados escoceses (através de Juliana de Drummond) e da Ilha da Madeira.

Ascendência judaica

Simoa da Rosa foi uma figura relevante na linhagem familiar dos cristãos-novos no Nordeste do Brasil. Ela era a filha de Belchior da Rosa, um cristão-novo e um dos primeiros senhores de engenho no Brasil, e de Antônia Soares.

Considerada uma "meia cristã nova", sua identidade e ligação com Belchior da Rosa foram confirmadas em depoimento perante o inquisidor Heitor Furtado de Mendonça, em 30 de outubro de 1593. Embora a data exata de seu nascimento não seja especificada, é aceito que ela nasceu algum tempo depois da chegada de seu pai a Pernambuco, o que valida seu vínculo como filha. Simoa da Rosa casou-se com Domingos Bezerra e foi a pentavó de Albina Ferreira do Souveral.

Fontes bibliográficas

  • CÂMARA, Fernando. Algo de Minha Família (Lado Materno). Fortaleza: Tipografia Minerva, 1989.
  • LIMA, Maria da Conceição Ferreira. Uma Família Chamada Saraiva Leão: Uma História Desenhada nos Sertões Nordestinos. 2004. Monografia (Licenciatura em História) – Departamento de Ciências Humanas, Faculdade de Educação, Ciências e Letras do Sertão Central, Universidade Estadual do Ceará, Quixadá, 2004.
  • BEZERRA NETO, Eduardo. Cristãos Velhos e Cristãos Novos nas Capitanias de Pernambuco e Ceará: séculos XVI a XVIII. Revista do Instituto do Ceará, Fortaleza, 2016.
Wesley Alcoforado

Cientista da computação e genealogista amador

Wesley Alcoforado